Bruna Verlingue passou toda a sua vida em hospitais, fazendo exames e consultando médicos sobre sua doença genética. Agora, com 21 anos de idade, a jovem decidiu abrir mão de lutar pela cura de sua doença e conta que essa foi a melhor escolha da sua vida.
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A doença de Bruna faz com que seu sangue fique grosso e mais propenso a formar coágulos. Portanto, a condição causa tromboses no corpo da jovem.
Diagnóstico
Até os cinco anos de idade, Bruna viveu uma vida normal e na época nem sabia que tinha a doença. Os problemas começaram depois que ela pegou uma gripe forte, que não passava. Preocupados, os pais de Bruna a levaram até o hospital e, com os resultados dos exames todos alterados, os médicos suspeitaram de leucemia.
Para continuar os exames, a família teve que deixar Sinop, no Mato Grosso, e se mudar para Curitiba, no Paraná. Inicialmente, os médicos descobriram que a garota havia tido duas tromboses. Uma delas foi no cérebro, o que ocasionou na perda do olfato e parte do paladar. A outra trombose atingiu a veia porta, o que fez com que seu braço crescesse muito.
Apenas quando Bruna completou 16 anos foi quando o diagnóstico finalmente saiu: deficiência das proteínas “S” e “C”. Ou seja, a medula não produz as proteínas, o que causa a trombifilia. A imunidade da jovem era muito baixa, e ao longo dos anos precisou ser internada inúmeras vezes.
A luta e complicações
Junto com as internações, Bruna também foi submetida à cirurgias, testes e tratamentos, em busca da cura de sua condição. A família chegou a procurar a solução em diversos estados, mas nenhuma funcionou.
Além disso, a jovem começava a apresentar complicações vindas da doença. Pelo fato do sangue não chegar normalmente no fígado, Bruna desenvolveu cirrose hepática, e hoje apenas 30% do órgão funciona.
De acordo com ela, todos os órgãos de seu corpo sofrem e funcionam de forma diferente. “O coração, por exemplo, aumentou de tamanho, já que precisa trabalhar mais. Também tenho muitas crises convulsivas.”
As complicações sociais também vieram com os 10 anos em busca da cura. “De repente, não tinha mais uma vida normal, não pude mais brincar com outras crianças, inclusive com meus irmãos e primos, não conseguia ir sempre para a escola, não podia ficar em locais movimentados”, conta.
Bruna conta que precisou parar de frequentar o ensino médio pelo risco de contaminações e viveu com muits restrições. “Enquanto meus amigos e colegas estavam se formando no colégio, começando uma faculdade, eu, aos 17 anos, entrava na fila do transplante de fígado e medula.”
“Viver de verdade”
Quando Bruna completou 18 anos, algo mudou dentro dela e então ela tomou a decisão que mudaria tudo. “Decidi parar de lutar pela cura e começar a lutar pela vida, parar de sobreviver e começar a viver de verdade.”
Após conversar com os médicos e com a sua família, deixaram Curitiba e voltaram para Sinop. Ainda assim, a cada dois meses a jovem precisava retornar ao Paraná para fazer exames e acompanhamentos, durante dois anos.
“As pessoas falavam que estávamos loucos e que eu ia morrer, mas eu parei de me importar. Realmente não sei quanto tempo tenho e, por isso mesmo, quero aproveitar ao máximo e ser feliz”, explica.
Logo após a decisão, Bruna prestou vestibular e começou a cursar Psicologia na Unic (Universidade de Cuiabá). Além disso, a jovem escolheu se mudar e morar sozinha, começou a trabalhar com internet e hoje tem mais de 170 mil seguidores no Instagram. “Meu objetivo é inspirar as pessoas e incentivá-las a viver o agora, assim como eu faço.”
Novo começo
Há um ano e meio, Bruna conheceu Marcos e, em julho deste anos, no meio da pandemia, os dois ficaram noivos. Ela conta que com cinco meses de namoro ela teve algumas complicações e passou alguns dias na UTI. Na ocasião, os médicos diziam que talvez ela não resistisse, mas ainda assim Marcos ficou ao seu lado.
“Agora estamos morando juntos e temos um combinado: sempre terminar o dia com algo bom, porque não sei se será o meu último. Pode ser assistir a um filme bacana, preparar uma comida que gostamos, dançar, dar risada”, disse Bruna.
Ainda assim, Bruna tem restrições e limitações. “Não posso praticar atividade física, sigo uma dieta alimentar restritiva, tenho que ter cuidado para não pegar nenhuma infecção, me machucar ou ter sangramentos e continuo aguardando o transplante, mesmo sem a certeza de que me recuperarei totalmente com ele.” Mas, segundo ela, aos 21 anos finalmente conseguiu ter uma vida normal.
“O fato é que há três anos parei de ter a cura como objetivo e optei por viver o tempo que me resta da melhor forma possível, não focando em que dure muito, mas vivendo muito o quanto durar. E essa foi a melhor decisão que tomei.”
Com informações da UOL Universa.