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sexta-feira, 1, novembro, 2024

Escolha de ministros ligados ao PT gera receio de um novo ‘governo Dilma’

FÁTIMA MEIRA/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO-09/12/2022

O mercado financeiro vê com desconfiança e reage mal à escolha dos ministros de Estado já anunciados pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A avaliação é de que são nomes muito ligados ao PT, o que deixa de lado a chamada frente ampla, que ganhou força na campanha eleitoral.

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Lula escolheu como ministro da Fazenda Fernando Haddad, ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação de governos petistas. Ele vai comandar a política econômica central e será responsável pelas decisões fiscais do governo, além das políticas de geração de emprego, repasses para programas sociais e investimento na máquina pública.

O vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, será o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. O nome dele agradou ao mercado, por ter bom diálogo com setores empresariais. Alckmin foi governador de São Paulo quatro vezes, deputado federal e prefeito. Durante novembro e dezembro deste ano, foi coordenador da equipe de transição.

Uma das grandes expectativas do mercado é em relação à reforma tributária. A grande quantidade de impostos e entraves burocráticos prejudica o crescimento da indústria, a abertura de empresas e a geração de empregos no país, segundo especialistas. Nas entrevistas recentes, Haddad tem dito que essa será a prioridade da próxima gestão do Executivo, mas não deu detalhes de como pretende tratar o tema.

Frente ampla abandonada

Para o sociólogo Fábio Gomes, especialista em estratégia e reputação, até agora, Lula tem abandonado a bandeira da chamada frente ampla, que consiste em governar com a participação e apoio de diversos partidos e não apenas do PT. O especialista diz que a equipe está concentrada apenas no partido do próprio presidente.

“As eleições foram desencadeadas por promessas, propostas das candidaturas. Um termo que foi muito utilizado pela campanha do Lula foi ‘frente ampla’. Não sei em que medida essa perspectiva foi determinante para a escolha dos eleitores. Mas, se for uma questão central para as escolhas eleitoriais, pode causar uma certa frustração no eleitorado”, detalha Fábio Gomes.

Para o especialista, além das questões de governabilidade, a imagem do PT está prejudicada em razão dos escândalos de corrupção dos últimos anos. Para ele, ter uma equipe diversa politicamente seria importante para repassar credibilidade aos investidores.

“Uma segunda questão é a imagem do partido, com questões graves que ocorreram, como mensalão, petrolão. Um governo que tem as posições centrais ocupadas pelo PT pode afetar a imagem e a confiança em razão desse histórico, essa convicção do PT de governar sozinho tendo esse histórico de corrupção. Lógico que quem ganhou a eleição foi o presidente Lula, mas é uma questão de cuidado”, completa Gomes.

Risco econômico

Na última quinta-feira (22), foram anunciados 16 ministros da próxima gestão, entre eles, Márcio França (Portos e Aeroportos), Geraldo Alckmin (Indústria e Comércio), Alexandre Padilha (Relações Institucionais), Márcio Macêdo (Secretaria-Geral da República), entre outros.

O temor é de que, sem responsabilidade fiscal, o país passe por um aumento ainda mais acentuado nas dívidas e gastos públicos, o que geraria mais inflação, pessimismo no mercado e, consequentemente, piora na economia, de acordo com os especialistas. O risco é de algo semelhante ao que ocorreu no governo Dilma Rousseff, quando o custo de ações sociais não foi pensado junto à estabilidade econômica.

Dilma sofreu com problemas econômicos profundos, como crescimento do desemprego, da pobreza e viu a inflação aumentar significativamente. Os entraves não foram corrigidos até hoje, e o país não tem espaço fiscal para aventuras, avaliam economistas.

Pessimismo

Na opinião do advogado e cientista político Rafael Favetti, o mercado está em modo de espera, aguardando qual será a linha econômica da próxima gestão do Executivo. Mas ele destaca que os nomes anunciados até agora trazem pessimismo.

“A participação de Geraldo Alckmin na chapa gerou a expectativa de responsabilidade fiscal. O próprio presidente Lula criticou, antes de anunciar seus ministros, a falta de responsabilidade fiscal. O governo já tem muita dívida emitida e sempre há um temor sobre a capacidade de pagamento dessa dívida. Os nomes anunciados pelo presidente não foram os nomes sonhados pelo mercado. Porém, especialmente o ministro da Fazenda vem dando declarações que colocam a responsabilidade fiscal nos passos do governo”, disse.

“O mercado está à espera para saber quais são os planos do governo para a geração, o desenvolvimento. Não é de hoje que o mercado aguarda uma reforma tributária”, completa o especialista.

Favetti destaca que a nomeação de Haddad para o Ministério da Fazenda, apesar de ser um nome de alguém muito próximo a Lula, não enfrenta grandes resistências, já que, segundo ele, o mercado sabe que o titular da pasta não pode ser um nome estritamente técnico, mas também deve ter experiência política. 

R7 NOTÍCIAS

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