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sábado, 23, novembro, 2024

Se comprovada, fraude de R$ 20 bi na Americanas pode ser histórica

ILUSTRATIVA

O problema que a Americanas comunicou, ontem (11/1), ter encontrado não é dos pequenos. Em anúncio ao mercado, a empresa informou que identificou “inconsistências contábeis” no balanço financeiro da ordem de R$ 20 bilhões.

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As primeiras informações indicam que alguns financiamentos contratados pela empresa com fornecedores não foram lançados de forma correta no balanço. Ou seja: o endividamento real da Americanas seria, em tese, muito maior do que o reportado em seus demonstrativos financeiros.

A questão é tão séria, que o presidente recém-empossado, Sergio Rial, pediu demissão. Ele foi acompanhado pelo diretor financeiro, André Covre. No cargo há apenas 10 dias, Rial e Covre renunciaram ao identificar os erros, que teriam acontecido em 2022, antes de os novo executivos assumirem os cargos.

A Americanas informou ainda estar apurando o que realmente ocorreu. A confirmação das irregularidades e dos valores envolvidos será feita por uma auditoria independente.

Se ficar confirmado que se trata de uma fraude ou manipulação contábil, o rombo de R$ 20 bilhões será um dos maiores já conhecidos pelo mercado brasileiro. Para se ter ideia, a fraude que resultou na falência do Banco Panamericano foi de R$ 4 bilhões.

Já a manipulação contábil de R$ 600 milhões descoberta na resseguradora IRB Brasil, em 2019, fez as ações da empresa derreterem 90% na Bolsa de Valores desde então.

Via e CVC

Com um valor de mercado de R$ 8 bilhões, a Americanas terá problemas em lidar com as consequências dos erros contábeis. É provável que a empresa tenha que lançar parte do prejuízo bilionário no balanço, o que tornaria seu valor patrimonial negativo. Em casos assim, para que a empresa não fique insolvente, os acionistas e sócios são chamados a colocar dinheiro no negócio.

O episódio na Americanas não seria, nem de longe, o primeiro do setor, embora envolva uma cifra mais elevada. A Via (antiga Via Varejo), dona das marcas Casas Bahia e Ponto, descobriu uma fraude contábil, em 2019, de R$ 1,1 bilhão.

Na ocasião, a varejista concorrente da Americanas não fez a baixa de ativos que foram vendidos e deixou de contabilizar no balanço perdas com o pagamento de verbas em processos trabalhistas. A investigação de uma auditoria independente atestou a manipulação dos números e a empresa lançou o prejuízo nos resultados de 2019.

Já o caso da CVC ainda é alvo de discussão na Justiça. A empresa de turismo identificou, em 2020, erros contábeis que teriam inflado os resultados financeiros em mais de R$ 300 milhões. Os investidores da empresa na Bolsa de Valores ingressaram na Justiça com ação de reparação, por terem adquirido as ações da CVC na crença da veracidade dos números que se revelaram manipulados.

Ivo Bari, sócio do escritório BVZ Advogados e professor do Insper explica que, em casos de inconsistências contábeis, o mais comum é que a própria empresa ingresse com ações contra os executivos que estavam no comando quando os problemas aconteceram.

“Pela Lei das S/A (Lei das Sociedades Anônimas), os administradores podem ser responsabilizados pelos prejuízos às companhias. É papel dos diretores e executivos agir de acordo com dever fiduciário de lealdade e de diligência. Se esses deveres forem descumpridos, os administradores estatutários estarão sujeitos a penalidades”, diz o advogado.

Queda das ações

Mesmo com o cenário pouco claro, é esperada uma reação negativa do mercado financeiro amanhã. Entre as consequências mais prováveis, está a queda das ações da Americanas na Bolsa.

Os papeis subiram 32% desde que Sergio Rial foi indicado para a presidência, no ano passado. A chegada do executivo foi comemorada dada a sua boa reputação: antes de assumir a Americanas, ele foi presidente do Santander e conselheiro de administração de grandes empresas.

A troca do comando da empresa foi um marco. Rial substituiu um dos mais longevos executivos de empresas de capital aberto. Miguel Gutierrez foi presidente da Americanas por mais de 20 anos e saiu do cargo no final do ano passado.

Com a saída de Rial e de André Covre, o conselho de administração da Americanas nomeou, de forma interina, João Guerra para o cargo de presidente e diretor de Relações com Investidores. Segundo o comunicado da empresa, o executivo não estava envolvido na gestão contábil ou financeira.

METRÓPOLES

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