O advogado criminalista Marcos Vinícius Borges, de 37 anos, conhecido por ostentar uma vida de luxo nas redes sociais e por atuar em casos polêmicos, como o da chacina com sete mortos após uma partida de sinuca, em Sinop (MT), precisou mudar boa parte de sua rotina desde que sofreu uma tentativa de homicídio, no fim do mês passado, dentro do próprio escritório. Segurança e atenção estão redobrados e os lugares frequentados já não são mais os mesmos, conta à reportagem. Ao relembrar o ataque, ele revela que um dos criminosos, ao sacar a arma em sua sala, anunciou que ia matá-lo e que aquela era uma execução encomendada. Os dois suspeitos marcaram horário e se passaram por clientes em potencial para que conseguissem entrar no prédio.
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— Eles agendaram um horário como possíveis clientes e, até num ato de bobeira, algo que não é costumeiro, acabei agendando eles num horário fora da minha hora de serviço, momento em que o escritório estava bem vazio, só estávamos eu e meu pai — relembra. — O primeiro bandido chegou e aguardou normalmente. Eu estava finalizando uma audiência de Goiás por videochamada. Ao acabar, autorizei que ele subisse. Foi quando um outro entrou e rendeu meu pai lá embaixo. Ele, ao entrar na minha sala, sacou a arma e disse que ia me executar, que era uma “peça encomendada”, ou algo do tipo.
Antes de acabar sendo baleado perto do peito, ele e o pai, Lúcio Borges, de 76 anos, ainda entraram em luta corporal contra os dois bandidos. Já ferido gravemente, ele conta que, àquela altura, achava que ia morrer e só conseguia pensar em proteger o pai.
— No momento em que ele fez esse anúncio (de que ia matá-lo) eu já não me recordo muito bem, por conta da adrenalina… até o momento em que meu pai apareceu, lutando com o outro rapaz. Quando vi o cara apontar a arma para o meu pai, e quando ele viu a outra arma apontada para mim…. nós dois entramos naquele instinto natural de proteger quem a gente ama. Entramos em luta corporal e acabei alvejado na altura do peito. Eu senti exatamente quando levei o tiro, mas o instinto de amor pelo meu pai foi maior. Eu pensava que não ia sobreviver , então minha intenção era só salvar o meu pai. Minha intenção era lutar com aqueles caras até tirá-lo de perigo. Quando conseguimos afastá-los, contei ao meu pai que tinha levado um tiro, liguei para a delegacia e, também, para o hospital, para que já agilizassem um atendimento de urgência.
A Polícia Civil já conseguiu prender um dos suspeitos de participação no crime, identificado como Lucas Santana Rodrigues. Outro, que não teve o nome revelado — apenas uma foto, para reconhecimento —, continua foragido. A motivação ainda segue um mistério, já que Marcus Vinícius atuou — e atua — em vários casos onde defende réus acusados por crimes que mobilizaram a opinião pública.
Além de um dos autores da chacina de Sinop, o criminalista também defendeu recentemente, na mesma cidade, Iago Berlanda, de 29 anos, suspeito de atropelar e matar o atleta Leandro Ferreira dos Santos, de 37 anos; atuou ainda na defesa de um operador de máquinas de 47 anos que foi absolvido pelo crime de estupro; fez a defesa de um homem preso por atirar em um cachorro em Cuiabá; entre outros casos. Além disso, a reportagem apurou que ele já teria protocolado denúncias de corrupção contra políticos, servidores públicos locais e até policiais — o que ele, questionado, diz que prefere não comentar ou entrar em detalhes.
À esquerda, Lucas Santana Rodrigues, preso. Outro suspeito segue foragido — Foto: Reprodução
O criminalista afirma que, após o atentado, reforçou a segurança e contratou um profissional para escoltá-lo. Além disso, deu entrada no porte de armas. O estilo de vida “ostentação”, no entanto, não vai mudar, garante.
— Eu não pretendo alterar o meu estilo de vida em razão do ocorrido. Vou continuar utilizando as jóias que eu gosto, andando nos carros que eu gosto, mas certamente vou observar melhor os lugares onde ando, mudar alguns locais que frequento. Mas não meu estilo de vida — diz. — Nós reforçamos o escritório com mais uma porta de segurança e detector de metal e dei entrada no meu porte de arma, que, para mim, é o mais importante. Por enquanto, também contratei uma pessoa para fazer a minha segurança.
Advogado Marcos Vinícius Borges chama atenção nas redes pelo perfil de ostentação — Foto: Reprodução
Ele defende que advogados criminalistas tenham direito ao porte de armas para defesa pessoal.
— O promotor tem (direito ao porte de arma), o juiz tem… não se fala tanto em um parâmetro de igualdade? a OAB tem que lutar por isso, mesmo. Depois que tive essa tentativa contra mim, houve o caso de um outro advogado no Maranhão, que inclusive era meu seguidor nas redes sociais. A família dele entrou em contato comigo… ou seja, esses ataques são recorrentes contra advogados criminalistas.
Vinícius afirma que já se recuperou bem e voltou a trabalhar normalmente. Ele também comenta sobre o possível medo de voltar a ir à rua ou mesmo de fazer atendimentos no escritório, que não pretende mudar de lugar.
— Já estou recuperado, agradeço muito a Deus. Já retornei ao trabalho, fiquei apenas 5 dias longe — conta. — E, sobre medo, não vou dizer que o que aconteceu é fato superado… mas não vou dizer também que existe todo esse receio. Eu reforcei minha segurança e meu modo de atender, não atendo mais como antes, de peito aberto, e busquei reforçar a minha segurança. Não saio mais na rua para lugares que não sejam essenciais e o endereço onde eu moro não é divulgado. É essa maneira que irei me resguardar.
O GLOBO