A onda de calor que tem assolado Mato Grosso nas últimas semanas traz grandes preocupações para os produtores de soja do estado. Autorizados a iniciar o plantio desde o dia 16 de setembro, alguns agricultores já estão enfrentando dificuldades decorrentes do calor excessivo, que afetou o desenvolvimento inicial das lavouras. Em algumas regiões do estado, os produtores já tiveram que replantar a soja, incorrendo em gastos ainda maiores nesta safra.
De acordo com o projeto de monitoramento climático da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja-MT), o Aproclima, algumas regiões, especialmente no sul do estado, têm registrado temperaturas superiores a 44ºC. Como consequência, essa região registra os maiores atrasos na semeadura. O calor extremo é agravado pela estiagem, que já chega a mais de 10 dias em algumas regiões.
“Os produtores vivem um momento de muita apreensão. De um lado, temos o atraso no plantio em relação aos anos anteriores, agravado pelas altas temperaturas, que colocam em xeque os plantios já realizados. A temperatura elevada pode comprometer o desenvolvimento e, em última instância, levar à perda das lavouras”, afirma o presidente da Aprosoja-MT, Fernando Cadore.
“Já temos relatos de replantios, de lavouras que precisam de água nos próximos dias, sob pena de se perderem”, complementou.
Além do atraso na semeadura, as temperaturas extremas registradas em Mato Grosso podem causar uma redução da produtividade desta safra. Cadore lembra ainda que o atraso na semeadura da soja também compromete o plantio do milho de segunda safra, que normalmente ocorre imediatamente após a colheita da soja.
“Isso tem desestimulado o produtor, pois em muitas regiões o custo torna o milho inviável, então, preocupa muito mais”, pontuou.
As chuvas recentes, especialmente na porção Norte de Mato Grosso, permitiram um progresso mais significativo na semeadura em várias regiões do estado, especialmente no último final de semana. No entanto, a seca continua sendo uma preocupação em outras áreas, afetando o desenvolvimento das lavouras.
“É importante destacar que em alguns municípios a preocupação aumentou nesta última semana, devido ao baixo regime de chuvas e, em alguns casos, a ausência de precipitação, que registrou mais de 10 dias. Esse cenário, combinado com as temperaturas mais elevadas, tem prejudicado o desenvolvimento das lavouras e, em algumas cidades, já foram observados replantios”, diz o relatório do Imea.
Segundo o NOAA (Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos), as chuvas deverão aumentar de intensidade somente na última semana de outubro, o que pode ser um ponto de atenção para o desenvolvimento das lavouras em Mato Grosso.
A semeadura da soja no estado está atrasada em 6,94 pontos percentuais em relação à safra anterior. Segundo o último boletim do Imea, a semeadura atingiu 60% das áreas previstas, bem atrás dos 66,94% registrados no mesmo período da safra anterior.
A região mais atrasada em relação à safra anterior é o Sudeste, que atingiu apenas 41,99% do plantio na última sexta-feira. Na mesma data do ano anterior, o plantio havia alcançado 82,38%, um atraso de 40,39 pontos percentuais. Por outro lado, as regiões Nordeste e Médio-Norte estão adiantadas em relação a 2022.
Nesta safra, os agricultores de Mato Grosso devem plantar 12,22 milhões de hectares, com uma produtividade estimada em 59,70 sacas por hectare e uma produção de 43,78 milhões de toneladas, o que representa uma queda de 3,39% em relação ao ano anterior. A conjuntura climática desfavorável e o atraso no plantio geram preocupações entre os produtores e podem afetar a produção de soja no estado.
ESTADÃO MATO GROSSO