De acordo com um estudo publicado nesta quarta-feira (20) na revista The Lancet, praticamente todos os países ou territórios do mundo terão queda na quantidade de nascidos vivos até 2100.
Ao que tudo indica, estamos caminhando para nos tornar um planeta dividido em termos demográficos: enquanto a taxa de fertilidade em países de maior renda tende a cair, ela tende a aumentar em regiões de menor renda. Essa é considerada uma grande mudança social do século 21.
“O mundo estará enfrentando, simultaneamente, um ‘baby boom’ [“explosão”] em alguns países e um ‘baby bust’ [“fiasco”] em outros”, afirma um dos autores do estudo, o pesquisador Stein Emil Vollset, em comunicado.
Tal conclusão é fruto de uma avaliação global de indicadores de fertilidade entre 1950 e 2021 em um total de 204 países ou territórios. Em 2021, centenas de países ficaram abaixo do nível de reposição populacional: houve uma queda de 5 filhos por mulher em 1950 para 2,2 filhos por mulher no ano mais recente amostrado.
Também em 2021, mais da metade das nações ficou abaixo da taxa de fecundidade necessária para preservar o tamanho populacional a longo prazo. Essa taxa corresponde a uma média de 2,1 filhos por pessoa do sexo feminino.
A estimativa é que, até 2050, 76% dos países (155 de 204) tenham taxas menores do que 2,1. Essa porcentagem deve saltar para 97% (193 de 204) até 2100. A previsão é de que a fecundidade global fique em torno de 1,8 em 2050 e 1,6 em 2100, gerando uma queda populacional. Essa redução, porém, pode ser amenizada por políticas de imigração e de apoio à maternidade e à paternidade.
“Em muitos sentidos, taxas de fertilidade em queda são uma história de sucesso, refletindo não apenas uma contracepção melhor e mais acessível, mas também a escolha de muitas mulheres de atrasar ou ter menos filhos, além refletir uma maior oportunidade de educação e emprego”, explica Vollset.
Por outro lado, ainda hoje há países com altas taxas de fertilidade. Em 2021, a África Subsaariana respondeu por 29% dos bebês nascidos no mundo. E é na região africana que estão três dos seis países que terão uma taxa de fecundidade maior do que 2,1 em 2100: Somália, Níger e Chade – os outros são Tonga e Samoa, na Oceania, e Tajiquistão, na Ásia.
O estudo reconhece que a queda de fecundidade na África Subsaariana está acontecendo a uma velocidade menor. Assim, espera-se que os países da região contribuam com 42% dos nascimentos no mundo até 2050 — e 54% até 2100.
A grande mudança no número de nascimentos ressalta a necessidade de priorizar essa região, segundo ressalta o pesquisador Austin Schumacher, um dos autores da pesquisa. Isso inclui concentrar esforços para “diminuir os efeitos das mudanças climáticas, melhorar a estrutura de saúde e continuar a reduzir a taxa de mortalidade infantil, junto de ações para eliminar a extrema pobreza e garantir que os direitos reprodutivos das mulheres”.
QUAIS SÃO AS CONSEQUÊNCIAS DAS MUDANÇAS DEMOGRÁFICAS?
Tais mudanças demográficas terão impactos sociais e econômicos. Nos países de renda alta ou média, a força de trabalho tende a diminuir, enquanto as populações irão envelhecer (o que requer maior seguridade social e de saúde). Já os países de renda mais baixa terão que enfrentar um elevado número de nascimentos.
Os autores do artigo apontam a responsabilidade dos governos. “O tempo é essencial, uma vez que os esforços atuais para gerir o crescimento populacional só deve ser sentido após 2050”, ressalta Schumacher.
No âmbito dos países que devem apresentar um “baby boom”, é importante adotar medidas que favoreçam o acesso de mulheres à educação e da população toda a métodos contraceptivos modernos. “Está claro que enfrentar a explosão populacional em países com fertilidade mais alta depende, em grande medida, de acelerar o progresso quanto à educação de meninas e quanto aos direitos reprodutivos”, constata o pesquisador.
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Já com relação à queda das taxas de fecundidade, os pesquisadores afirmam que a diminuição irá ocorrer mesmo que sejam implementadas medidas bem sucedidas para estimular a natalidade. Uma alternativa para contornar o problema seriam políticas de imigração. “Países da África Subsaariana têm um recurso vital que sociedades no processo de envelhecimento estão perdendo: uma população jovem”, comenta a pesquisadora Natalia Bhattacharjee.
Fonte: Redação Galileu