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sexta-feira, 22, novembro, 2024

Mãe: “Matar filho de pobre é igual matar cachorro, não dá nada”

MidiaNews

“Matar filho de pobre é igual matar cachorro, não dá em nada”, diz Sueli Cícero Mariana, que teve a filha Maiana Mariano Vilela assassinada aos 16 anos e agora convive com a notícia de que os culpados pelo crime estão soltos, mesmo após condenados.

A morte da adolescente completou dez anos no último dia 20 de dezembro, data que, em 2011, Maiana desapareceu e deu inicio a angústia vivida pela família que perdura até os dias de hoje.

Dona Mariana, como é chamada pelos conhecidos, contou ao MidiaNews que apesar de todos esses anos sem a filha a dor que sente ainda é igual ao dia em que soube do sumiço da jovem. Ela lembra que recebeu a notícia no dia de seu aniversário e desde então esta época do ano não é mais a mesma.

Duvido, o que fica na minha mente é que cadeia foi feita para pobre. Quem fica preso é ladrão de galinha, quem rouba um pacote de açúcar, mas para rico não tem Justiça. O dinheiro compra tudo.

“Nunca mais tive um bolo, simplesmente chorei e até hoje ainda choro muito. Dói na minha alma, no fundo do meu coração, a forma como aconteceu e saber que não posso fazer nada porque sou pobre”, lamenta.

A tristeza maior da família, além de viver sem Maiana, é saber que todos aqueles que foram culpados pela morte da adolescente seguem soltos. O irmão da jovem, Danilo Mariano, acredita que parte dessa injustiça acontece por causa do dinheiro e da influência do empresário Rogério Amorim, que encomendou o assassinato de sua irmã. Embora casado, Rogério tinha um relacionamento com Maiana.

A família chegou a ter um alento e acreditou que a memória de Maiana seria respeitada após tanto Rogério quanto os executores do crime serem condenados pelo Tribunal do Júri da Comarca de Cuiabá, em 2016.

À época, o empresário pegou 20 anos e três meses de prisão em regime fechado, pelo crime de mando e homicídio triplamente qualificado.

Já o servente Paulo Ferreira Martins, que matou Maiana asfixiada, foi condenado a 18 anos e 9 meses, pelos crimes de homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver, também em regime fechado. Seu comparsa, Carlos Alexandre Nunes, que ajudou a esconder o corpo da vítima, pegou 1 ano e seis meses pelo crime de ocultação de cadáver em regime aberto.

Danilo afirma que ele e a mãe comemoraram após a sentença, porém a alegria durou pouco, porque poucos meses depois a Justiça concedeu o habeas corpus aos condenados.

Desde então eles afirmam que se sentem desamparados, sem ter como recorrer, e sem esperanças de que os criminosos voltem para cadeia.

“Duvido. O que fica na minha mente é que cadeia foi feita para pobre. Quem fica preso é ladrão de galinha, quem rouba um pacote de açúcar, mas para rico não tem Justiça. O dinheiro compra tudo”, afirma Mariana.

“Bem de vida”

MidiaNews

 Sueli Mariano: “Nunca mais tive um bolo (de aniversário)”

Dona Mariana confessa que Rogério destruiu sua vida assim como a de sua única filha mulher. Sem conseguir conter as lágrimas, ela afirma que só consegue ver o empresário como um “monstro dissimulado”.

Isto porque antes de Paulo confessar que havia sido contratado por Rogério para executar a adolescente, o empresário agia como se também estivesse sofrendo com o sumiço de Maiana.

A mãe da jovem conta que foi ele quem deu dinheiro para fazer os panfletos que foram espalhados pela Capital em busca de sua filha. Rogério também mostrava as pílulas que tomava para induzir o sono, afirmando à Dona Mariana que não conseguia dormir por causa da preocupação.

Todo esse comportamento fez com que a família da menor não desconfiasse de que poderia ter sido o empresário que havia mandado matar Maiana. Por isso, o choque grande quando a verdade veio à tona, ainda mais ao descobrir que toda a família do empresário acobertava o crime.

“Até então as notícias que chegavam para a Polícia eram todas da família dele que ligava dizendo que tinha visto ela [Maiana] nos lugares”, relata Danilo.

Mariana afirma que nunca mais viu Rogério, mas soube por terceiros que ele estava “bem de vida”, como se nunca tivesse sido condenado. Segundo ela, nesses últimos anos uma única pergunta rondou sua mente, mas até hoje ela não conseguiu tirar a resposta do empresário.

“São dez anos questionando o que levou ele a fazer isso. Às vezes, eu vou em algum lugar e me perguntam ‘por que mataram sua filha, dona Mariana?’ e não tenho uma resposta. Até hoje não sei por que mataram minha filha”, diz.  

Convivendo com a dor

Ao lembrar-se das memórias mais bonitas que viveu ao lado da filha, dona Mariana não contem a emoção. Sempre muito ligadas, a mãe conta que recebia muitas declarações de “eu te amo” da filha.

Muito jovem, ela afirma que Maiana sempre se preocupou com os estudos e sonhava em crescer na vida para dar uma vida melhor à família. Muitas vezes passando por dificuldades, no ano em que foi assassinada, a adolescente estava se dedicando a um curso profissionalizante no Senai.

Danilo também relata que sempre foi muito unido com a irmã. Após a separação dos pais, ele afirma que tomou o papel como figura paterna da adolescente e ajudou a criar Maiana.

Na época em que seu corpo foi encontrado, meses após seu desaparecimento, o vigilante lembra que seguiu toda a equipe da Polícia até o local onde os assassinos haviam enterrado sua irmã. Ele também foi quem avisou a mãe sobre a morte da jovem, acabando com as esperanças de um final feliz para a família.

Arquivo

A jovem Maiana, que foi assassinada em dezembro de 2011

Desde o último contato que teve com a filha, em uma ligação um dia antes de sua morte, dona Mariana afirma que nunca conseguiu esquecer da dor que sentiu ao saber da forma que foi brutalmente assassinada.

Ela confessa que hoje se mantém forte pelos outros filhos e seus netos. No entanto, já pensou muitas vezes em tentar contra a própria vida nos momento que o sofrimento era maior do que podia suportar.

“Tento fazer um serviço, mas aquilo não sai da mente. Saio e as pessoas vêm até mim perguntando se eu sou a ‘mãe da menina que foi assassinada’. Às vezes eu tento me distrair, mas volto chorando, porque todo mundo me pergunta”, confessa.

Apesar de não acreditar que os condenados pela morte de sua filha voltem para a cadeia após tantos anos. Dona Mariana afirma que essa seria a única forma de trazer um pouco de paz ao seu coração e Justiça para tantas outras vítimas de feminicídio.

“Um ano, dois anos, dez anos e não aconteceu nada. Agora, nesses dez anos, quantas meninas já não foram assassinadas? Tem muitas Maianas por ai, mas será que tem alguém preso?”, questiona.

O crime

Segundo investigações da Polícia Civil, o crime começou a se concretizar quando Rogério Amorim deu um cheque de R$ 500 para Maiana descontar no Banco Itaú, no bairro CPA I, em Cuiabá.

Ela teria que levar R$ 400 desse dinheiro para pagar um suposto caseiro, em uma chácara na região do Coxipó do Ouro.

Segundo as investigações, o pagamento era parte do plano de Rogério para atrair Maiana para a morte.

A garota foi até a chácara, entregou o dinheiro para Paulo Martins, que, segundo a denúncia, a matou em seguida, por asfixia. Ele teria recebido a ajuda de Alexandre Nunes na ocultação do cadáver.

O corpo da jovem foi enterrado em uma área afastada na estrada da Ponte de Ferro, a cerca de 15 km de Cuiabá, e foi resgatado por policiais na manhã do dia 25 de maio de 2012, após todos serem presos.  A motivação para o crime sempre foi um mistério.

Fonte: Conteúdo Exclusivo MidiaNews

https://www.midianews.com.br/cotidiano/mae-matar-filho-de-pobre-e-igual-matar-cachorro-nao-da-nada/413901

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