No dia 21 de agosto o ministro de Infraestrutura do governo Bolsonaro, Tarcísio Freitas, estará em Sinop. Um grande ato público está sendo preparado para recepcionar o ministro, que retorna ao município um ano depois da sua última visita para falar de Ferrogrão.
A presença de Tarcísio para debater a ferrovia em Sinop é tratada como uma grande conquista, partilhada pela prefeitura de Sinop, Câmara de vereadores e Unesin (União das Entidades de Sinop). O governador Mauro Mendes, deputados federais e estaduais, senadores e cerca de 50 prefeitos da região norte do estado e sul do Pará serão mobilizados pelo prefeito Roberto Dorner (Republicanos) para estarem no encontro. “Quero convocar aqui os prefeitos de toda nossa região, os presidentes de sindicatos rurais e todas as lideranças do agronegócio para que possamos mostrar a força da nossa região em prol da construção da Ferrogrão”, disse o prefeito em notícia produzida pela sua assessoria.
Apesar da empolgação, a implantação da Ferrogrão não depende do “apoio” de prefeitos, lideranças políticas ou do setor produtivo. Tecnicamente chamada de EF-170, a Ferrogrão foi qualificada no PPI (Programa de Parcerias de Investimentos), ainda me 2016, na primeira reunião do Conselho do PPI – conforme decreto número 8.916, de novembro de 2016.
Desde então a Ferrogrão é considerada uma obra de interesse nacional. A fase de estudos de viabilidade técnica e econômica para implantação foram concluídos em maio de 2017. Devido a um atraso e falha no processo, a consulta pública foi concluída me maio de 2020. Desde julho de 2020 o processo da Ferrogrão aguarda a publicação do Acórdão pelo TCU (Tribunal de Contas da União), para que o edital de licitação dessa obra seja lançado. A atual previsão é de que o edital seja lançado no último trimestre de 2021. Em se concretizando, o leilão de concessão da ferrovia poderia ocorrer ainda no primeiro trimestre de 2022.
O projeto aprovado pelo Ministério da Infraestrutura, discutido pela sociedade e que aguarda o aval do TCU é para implantar uma ferrovia com 933 km, conectando Sinop ao Porto de Miritituba, no Pará – com ramais em Santarenzinho, Rurópolis, e Itapacurá.
A concessão foi modelada para ser no sistema vertical de exploração da ferrovia, no qual uma única empresa é responsável pela gestão da infraestrutura e prestação do serviço de transporte. Na prática, constrói a ferrovia e tem a permissão de explorá-la por 65 anos, cobrando pelo transporte de cargas. Em 2018, a previsão de custo para implementar a Ferrogrão era de R$ 12,7 bilhões.
Em sua última visita a Sinop, em setembro de 2020, quando integrou a comitiva do presidente Jair Bolsonaro, Tarcísio falou da importância da Ferrogão para dar suporte logístico à produção agrícola de Mato Grosso. Na época se concentrou em afirmar que seu ministério daria uma resposta rápida, em 60 dias, sobre a concessão da BR-163, de Sinop a Itiquira, no Sul do Estado, que está sob tutela da Odebrecht. A cobrança era pela duplicação da rodovia, que deve ocorrer integralmente daqui 4 anos, conforme plano de cura da concessão, discutido em maio desse ano (clique aqui para ver).
COMO SERÁ A FERROGRÃO?
De acordo com o projeto oficial da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), a Ferrogrão terá uma bitola de 1,6 metros, sobre um gabarito de 5,5 metros. Esse trilho deve ser projetado com 30 cm de altura, sobre dormentes de concreto protendido, com capacidade para suportar 32 toneladas por eixo.
A ferrovia não terá um relevo acidentado. A maior variação de rampas deve ser de 1,45%. Os trilhos começarão ser implantados a partir de Miritituba, rumo ao Sul, até chegar em Sinop. Embora exista uma previsão para estender um terminal até Lucas do Rio Verde, esse complemento é tratado como um “apêndice” a parte do projeto.
A ferrovia deverá entrar em operação a medita que as etapas forem sendo concluídas. Não será necessário finalizar a obra até Sinop para começar a levar soja por trem.
A bitola de 1,6 metro cria a falsa impressão de que a ferrovia terá uma operação limitada. Mas não será assim. O projeto da ANTT prevê a instalação de 48 pátios de cruzamento. Cada um destes terá 3,5 mil metros de comprimento. Esses cruzamentos de trilhos garante a operação constante da ferrovia.
Puxando as cargas haverão 47 locomotivas diesel-elétricas, com potência nominal de 4.389 cavalos, distribuídos em 6 eixos tratores. Cada locomotiva puxará um conjunto de 25 vagões com capacidade para 100 toneladas de grãos. Ao todo serão 1.180 vagões graneleiros e 51 vagões do tipo TCT, utilizado para o transporte de líquidos – como, por exemplo, o etanol de milho.
Essa é configuração do material rodante que a Ferrogrão terá no início das suas operações. A previsão da ANTT para o ano 2080 é que a ferrovia conte com 132 locomotivas transportando mais de 5 mil vagões. O material rodante representa 35% do investimento total na ferrovia. A maior parte, 51%, será consumida na construção da linha de ferro. Os 13% restantes correspondem à operação e tecnologia.
A capacidade instalada da Ferrogrão é para 58 milhões de toneladas por ano.
O ponto de partida da Ferrogrão é a cidade de Sinop. Toda produção que for embarcar nos vagões terá que chegar ao município primeiro. O terminal de embarque será construído na região conhecida como pé de galinha, há 6 km da BR-163, na estrada de acesso ao município de Cláudia. Dali, a soja e o milho viajarão a 80 km por hora até Miritituba.
Na ponta final da ferrovia existem terminais de transbordo de cargas em hidrovias e terminais portuários, com alguns equipamentos já funcionando e novos sendo instalados.
Fonte: Jamerson Miléski – GC Notícias