Depois de flertar com uma alta de 40% em meados de 2021, o preço das carnes no acumulado de 12 meses perdeu força e alcançou, em janeiro, o menor nível desde maio de 2018. A variação anual de apenas 0,04% é influenciada pela queda no valor dos cortes nobres e não aparece acompanhada pelas carnes mais tradicionais e preferidas para o churrasco.
De acordo com o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), calculado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), os preços do filé-mignon (-12%) e da carne de cordeiro (-10,1%) lideram as baixas de preço no acumulado do último ano.
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Por outro lado, cortes como a picanha (-0,33%) e o acém (-2,11%) apresentaram queda menos expressiva no acumulado dos últimos 12 meses. No mesmo período, o contrafilé (+0,65%), a costela (+1,32%), a alcatra (+1,59%) e o cupim (+5,98%) ficaram mais caros.
Paulo Luives, economista da Valor Investimentos, avalia que a recente desaceleração no preço das carnes tem origem na disparada de preços ao longo dos últimos anos. “Quando você passa para o ano seguinte, o efeito mais negativo é guiado pela base muito alta de 2021”, destaca ele.
Diante das altas no momento mais crítico da pandemia, Luives recorda que as carnes mais nobres foram substituídas por outros cortes mais baratos, que sofreram com a inflação devido ao aumento do consumo. “A menor demanda pelas peças mais nobres em razão dos preços muito altos justifica a redução atual”, analisa.
Pedro Afonso Gomes, economista e presidente do Corecon-SP (Conselho Regional de Economia de São Paulo), explica que a discrepância entre o preço dos cortes acontece também pela avaliação de produtores e intermediários sobre o lucro total a ser obtido com a venda do boi.
“Os vendedores fazem uma verificação sobre a possibilidade de vender cada corte de carne. Quando você fala de uma picanha, que está mais barata, isso aconteceu porque ela havia alcançado um preço muito alto em determinado momento. […] É necessário adaptar os preços aos consumidores”, afirma ele.
Formação de preço
Gomes, do Corecon-SP, explica que a formação de preço das carnes tem origem na criação do boi e pode ser encarecida com a elevação dos gastos de alimentação e manutenção da saúde do animal.
“Com a redução das produções agrícola e industrial, houve uma elevação no custo de criação do boi, que é alimentado por um ou dois anos antes de seguir para o corte. Hoje, há uma safra melhor e estamos no melhor período de corte do boi por questões climáticas, regionais e de exportação”, avalia Gomes ao citar a maior oferta do produto.
Segundo Gomes, metade do valor da arroba do boi, atualmente na casa dos R$ 300, é formada por partes que serão disponibilizadas no açougue. O restante é composto de ossos, pelancas e sebos, que até podem ser comercializados, mas por valores bem mais baixos.
Diante da evolução observada nos últimos meses, os especialistas preveem uma variação negativa no preço das carnes no acumulado dos próximos meses. “Creio que fevereiro e março serão marcados por novas reduções, influenciadas pelo fato de que estamos na safra do boi até abril”, reforça Gomes.
Entre os fatores que vão influenciar nos preços a partir de então, Luives cita a quantidade de carnes a ser exportada para a China no momento de reabertura do país asiático e a expectativa de aumento do consumo das proteínas por habitante.
R7 NOTÍCIAS