“E isso tudo sem falar do problema de tombamento das plantas que está sendo estudado e acontecendo em muitas regiões, e ainda sem uma resposta”, complementa o presidente. “São Paulo também tem problemas, Goiás também. O Pará não consegue terminar de plantar. O Brasil todo sofre com alguma condição adversa agora e por isso não vamos nem mesmo repetir a safra do ano passado. Na safra anterior não tínhamos o excesso de chuvas que temos hoje”.
Ainda assim, Galvan afirma também que reconhece a necessidade que a Conab tem de manter seu tom mais conservador e acredita que a companhia irá, gradualmente, fazer seus cortes na safra brasileira nos boletins seguintes.
Ginaldo Sousa, Grupo Labhoro
“Nós já vínhamos falando que a Conab não iria ajustar de forma nenhuma seus números de acordo com o que o mercado já fez. Dito e certo. A Conab é muito conservadora, assim como o USDA, que não deve trazer grandes mudanças amanhã. Os números já eram esperados”, disse o diretor geral do Grupo Labhoro, Ginaldo de Sousa.
Segundo ele, a Conab observa o que ainda pode acontecer no Rio Grande do Sul – que pode perder mais ainda dado o calorão previsto para começar nesta terça-feira no estado, com as temperaturas podendo chegar a mais de 40ºC, principalmente com a fase crítica para as lavouras se aproximando, na segunda quinzena de janeiro e início de fevereiro.
A Conab, ainda como explica Sousa, poderia trazer novas correções, mesmo que acontecendo mês a mês. “Não podemos esquecer que o Rio Grande do Sul está sujeito a uma quebra grande, por seca e altas temperaturas a partir da próxima semana, e a qualidade do Centro-Oeste está muito abaixo do normal. Muitos grãos ardidos e avariados”.
Vlamir Brandalizze, Brandalizze Consulting
“Trata-se de um relatório defasado, que não contempla as perdas do Paraná e do Rio Grande do Sul. Só nestes dois estados temos uma diferença de 9 milhões de toneladas”, explica Vlamir Brandalizze, consultor de mercado da Brandalizze Consulting.
Ainda de acordo com o consultor, o boletim pode ter trazido dados coletados no meio de dezembro, mas ainda assim são conservadores, já que somente no Paraná as perdas já eram maiores do que estas à época. “O Deral atualizou a safra do Paraná para 13 milhões de toneladas, mas a Conab trouxe os mesmos 18 milhões do mês passado, e não mudou nada para o Rio Grande do Sul”.
Assim, Brandalizze acredita que os números poderão ser revistos em fevereiro, “mas será tarde. Eles deveriam ever os dados e trazer posição ainda em janeiro já que chove demais, seca, calor em excesso e se perde em todo lugar agora”. Para o consultor, a safra brasileira fica entre 130 e 135 milhões de toneladas no máximo. “Certamente nossa safra irá ser mais prejudicada ainda”.
O QUE DIZ A CONAB?
A Conab atribui às ‘boas expectativas’ para a safra 2021/22 às condições de clima bastante diferentes dadas nas regiões produtoras.
“De maneira geral, as lavouras seguem em evolução, inclusive com as primeiras áreas sendo colhidas em algumas localidades. As diferentes condições climáticas registradas entre as muitas regiões produtoras podem gerar variações nas produtividades obtidas, mas a expectativa ainda é de um resultado nacional superior àquele obtido em 2020/21, particularmente em razão do incremento de área”, informam os especialistas da companhia em seu reporte deste 11 de janeiro de 2022.
A área cultivada com soja estimada pela Conab é de 40,4 milhões de hectares, 3,8% maior do que a da safra anterior, com rendimento médio esperado em 57,96 sacas por hectare (3478 kg/ha).
“A estimativa de produção da safra 2021/22 teve um ajuste, passando de 142,79 milhões de toneladas para 140,5 milhões de toneladas, movido por uma redução da estimativa de produtividade que foi ocasionada por problemas climáticos adversos a cultura, principalmente, no sul do Brasil. Cabe salientar que esse número ainda é uma estimativa de dados de campo e podem sofrer modificações nos próximos levantamentos”.
A nova estimativa de safra da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) veio em 140,5 milhões de toneladas nesta terça-feira (11) contra o número anterior de 142,8 milhões. A atualização era bastante esperada pelo mercado, porém, o tom conservador da instituição também já estava nas expectativas de analistas, consultores e líderes do setor. E para todos os consultados pelo Notícias Agrícolas, as perdas na safra 2021/22 são muito mais agressivas do que as projetadas neste reporte de janeiro e podem ser ainda mais caso as previsões climáticas se confirmem para os próximos dias.
Na semana passada, somente para o Paraná, o Deral (Departamento de Economia Rural do Estado do PR) reduziu sua projeção para a safra de soja de 18,4 para 13,1 milhões de toneladas. A Conab ainda estima uma safar no estado, porém, de 18,5 milhões de toneladas. Para o Rio Grande do Sul seu número ainda é de 21,2 milhões de toneladas.
Veja o que dizem analistas de mercado e o presidente da Aprosoja Brasil, Antônio Galvan, sobre a nova projeção da Conab e o que ainda pode ser registrado para esta temporada.
Para Antônio Galvan a quebra no Brasil é muito mais séria do que isso e a Conab foi bastante moderada em seu corte, e poderia ter trazido algo entre 135 e 138 milhões de toneladas.
“O Brasil não repete nem mesmo a safra do ano passado, podemos chegar a perto de 130 milhões de toneladas somente, e digo depois de ter visitado muitas lavouras no sul do país e ouvindo relatos de produtores do Brasil inteiro. Temos problemas em todos os lugares agora e o clima é muito diferente do que tivemos no ano passado”, diz.
O presidente da Aprosoja Brasil destaca as perdas muito graves no Paraná – que em sua perspectiva podem chegar aos 50% da safra -, a situação que pode ser ainda mais severa no Rio Grande do Sul em função da onda de calor que pode levar as temperaturas a passarem dos 40ºC, além das cheias e do excesso de chuvas no MATOPIBA que se dão de maneira sem precedentes.
Ele cita ainda os problemas vividos pelo Mato Grosso do Sul, que também sofreu agressivamente com a seca – e que agora consegue registrar alguma melhora em determinadas regiões pela chegada de chuvas, mesmo que pontuais – bem como áreas de Mato Grosso, que já começaram a colher – ainda de forma tímida – e que registram índices de produtividade menores do que o normal para a região em função do excesso de precipitações e da falta de luminosidade.
“E isso tudo sem falar do problema de tombamento das plantas que está sendo estudado e acontecendo em muitas regiões, e ainda sem uma resposta”, complementa o presidente. “São Paulo também tem problemas, Goiás também. O Pará não consegue terminar de plantar. O Brasil todo sofre com alguma condição adversa agora e por isso não vamos nem mesmo repetir a safra do ano passado. Na safra anterior não tínhamos o excesso de chuvas que temos hoje”.
Ainda assim, Galvan afirma também que reconhece a necessidade que a Conab tem de manter seu tom mais conservador e acredita que a companhia irá, gradualmente, fazer seus cortes na safra brasileira nos boletins seguintes.
Fonte: Notícias Agricolas