A crescente polarização entre as candidaturas à Presidência de Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL), a saída de Sergio Moro (União Brasil) da disputa e as dificuldades enfrentadas para a viabilização de uma opção de centro direita indicam a possibilidade de o segundo turno acabar, na prática, sendo antecipado para o dia 2 de outubro, data da primeira rodada de votação.
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Para vencer no primeiro turno, um dos candidatos precisa ter metade mais um do total de votos válidos – na conta não entram os nulos e os em branco. Não é fácil: desde a redemocratização, apenas Fernando Henrique Cardoso (PSDB) conseguiu, por duas vezes, conquistar o título antes do mata-mata.
Ex-ministro da Fazenda de Itamar Franco – o presidente que bancou o Plano Real –, FHC entrou na disputa de 1994 embalado pelo sucesso da estabilização econômica e ultrapassou o então favorito Lula ao longo da campanha.
Houve uma polarização entre os dois candidatos – nenhum dos outros concorrentes chegou a ameaçar o protagonismo da dupla; entre estes, ninguém alcançou os 10% dos votos (o terceiro colocado, Enéas Carneiro, teve o apoio de 7,38% dos eleitores). A baixa votação dos demais candidatos foi decisiva para a vitória antecipada do tucano.
Em 1998, FHC foi, mais uma vez, favorecido pela polarização. Seu principal adversário – Lula, de novo – receberia 31,71% dos votos. Os demais concorrentes, somados, chegaram a 15,22%.
No fim das contas, a oposição recebeu quase 47% dos votos válidos, quantidade insuficiente para barrar a reeleição – o terceiro mais votado foi Ciro Gomes (PPS), com 10,97%.
Em 2002, José Serra (PSDB) obteve, no primeiro turno, 23,19% dos votos – metade dos que foram para Lula (46,44%). O tucano só não perdeu de cara porque foi favorecido pelas boas votações de adversários de centro esquerda que, no segundo turno, fechariam com o petista: Garotinho (PSB, 17,86%) e Ciro (PPS, 11,97%).
Quatro anos depois, Lula esteve perto de ganhar no primeiro turno (recebeu 48,61% dos votos), mas acabou impedido, mais uma vez, pelos votos de eleitores de esquerda que preferiram outras candidaturas do mesmo campo: Heloisa Helena (Psol, 6,85%) e Cristovam Buarque (PDT, 2,64%). Nas três últimas eleições, os candidatos do segundo pelotão também foram fundamentais para a realização do turno definitivo.
Pesquisas recentes mostram que Lula e Bolsonaro têm mais de 70% da preferência do eleitorado, o que dificulta o crescimento de Ciro Gomes (PDT) e a viabilização de uma opção por uma direita não radical – nenhum dos demais adversários consegue chegar aos dois dígitos nas intenções de voto.
A eleição ainda está distante, Lula e Bolsonaro podem cometer erros, tropeços, eventuais mudanças não devem ser descartadas, mas as características dos dois candidatos e da própria eleição dificultam uma terceira via. É padrão em política dizer que, no primeiro turno, vota-se com a mente e o coração (no candidato preferido) e, no segundo, com o fígado (o eleitor vota contra aquele que não quer ver eleito).
Amados e odiados, Lula e Bolsonaro têm potencial para fazer com que os dois sentimentos sejam associados já na primeira rodada, o que inviabilizaria qualquer outra alternativa e criaria condições para o chamado voto útil, o que esvaziaria ainda mais os outros adversários.
Apesar de ter demonstrado recuperação nas últimas pesquisas, o atual presidente ainda está bem atrás do petista e, nas condições de hoje, correria mais risco de derrota fatal no primeiro turno.
A situação coloca Bolsonaro num dilema: ele tem que torcer para que outras candidaturas cresçam, mas não a ponto de ameaçarem sua vice-liderança.
Ainda é obrigado a conviver com uma situação irônica: ao mesmo tempo em que deve ter comemorado a saída de Sergio Moro (União Brasil) da disputa – dados indicam que ele herdou boa parte de seus eleitores –, o presidente tem também motivos para lamentar a ausência de seu ex-subordinado. Caso não escolham outro candidato e optem por anular seus votos, muitos dos simpatizantes do ex-juiz podem ajudar a derrotar Bolsonaro.
CNN BRASIL