21.6 C
Mato Grosso
segunda-feira, 25, novembro, 2024

Empresário de MT bancou metade da campanha de prefeito “rei do garimpo”

REPRODUÇÃO

Figura central na concessão de permissões para atividade garimpeira na cidade de Itaituba (PA), na região do Tapajós, a cerca de 1.300 quilômetros de Belém, como mostra a reportagem de capa de VEJA desta semana, o prefeito Valmir Climaco de Aguiar (MDB) é o exemplo mais bem-acabado de como garimpo, política e poder estão intimamente ligados na “Cidade Pepita”.

Climaco foi eleito em 2016 e reeleito em 2020, quando sua campanha foi em grande medida financiada por um garimpeiro mato-grossense com interesses em Itaituba. Trata-se de Valdinei Mauro de Souza, o Nei Garimpeiro, que bancou 63% da campanha do prefeito em 2020, com uma doação de 200.000 reais – Climaco arrecadou 316.304 reais no total.

Em nome de Nei Garimpeiro e de sua empresa, a Mineração do Pará Ltda, há pedidos de lavra garimpeira de minério de ouro junto à Agência Nacional de Mineração para uma área de 474 hectares em Itaituba, além alvarás em vigor para pesquisa mineral em 15.000 hectares na cidade e pedidos de pesquisa para mais 8.700 hectares.

“Se você mora numa cidade que 70% da economia é garimpo… Aqui quase todo mundo é garimpeiro”, disse Climaco a VEJA quando questionado sobre a doação eleitoral.

FIQUE ATUALIZADO COM NOTÍCIAS EM TEMPO REAL:  GRUPO 1  | GRUPO 2  | PLANTÃO NORTÃO MT

Nascido no Ceará, de onde migrou para Itaituba aos dezesseis anos ao lado dos pais e doze irmãos, Valmir Climaco foi de funcionário de loja de confecções e calçados a empresário, fazendeiro, pecuarista, garimpeiro e prefeito da cidade.  “Eu parei com garimpo vai fazer seis anos agora. Só tenho um garimpinho, mas não tenho mais vontade de mexer porque estou ficando velho”, desconversa.

Antes de vencer as eleições locais pela primeira vez, Climaco foi derrotado nos pleitos de 2004 e 2008, mas assumiu a prefeitura em 2010, após a cassação do candidato vitorioso. Ele também perdeu a eleição de 2012, até obter melhor sorte nas urnas nos oito anos seguintes.

O patrimônio do prefeito – ao menos o declarado à Justiça eleitoral – curiosamente minguou à metade desde que ele começou a aparecer nas urnas: de 1,8 milhão de reais em 2008, incluindo três quilos de ouro entre os bens informados, para cerca de 950.000 reais em 2020, ano em que declarou a posse de um avião monomotor Cessna 210-L, avaliado por ele em 250 000 reais – uma pechincha, considerando que há anúncios online do modelo por, pelo menos, 1,4 milhão de reais.

Como mostrou reportagem de VEJA em outubro de 2020, o maior adversário do prefeito nas eleições recentes também é garimpeiro. Ivan Dalmeida (PL), derrotado pelo prefeito em 2016 e 2020, tem duas lavras garimpeiras para minério de ouro em 95 hectares em Itaituba, com outorgas válidas até 2023,

segundo a ANM. Embora transite no meio, Dalmeida não foi páreo para Climaco e sua coligação pra lá de heterogênea na última eleição, que reuniu, além do seu MDB, PT, PSL, PP, PRTB, DEM, Avante, Republicanos e Solidariedade.

As boas relações políticas do prefeito, contudo, não se limitam às fronteiras de Itaituba. Ele tem proximidade com o deputado federal José Priante (MDB-PA), primo do governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), que o levou a uma reunião com o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, em fevereiro. No encontro, reclamaram da operação Caribe Amazônico, da PF, que queimou equipamentos de garimpeiros na região do Tapajós.

Priante foi o terceiro deputado federal mais votado em Itaituba – os dois mais votados, que não foram eleitos, também são aliados do prefeito: Júnior Pires, secretário de Agricultura da prefeitura, e o ex-deputado Francisco Chapadinha, irmão do vice-prefeito, Nicodemos Aguiar (MDB). O deputado estadual mais votado na cidade, Hilton Aguiar, é outro irmão do vice-prefeito.

VEJA

Matérias relacionadas

- Patrocinadores -spot_img

últimas notícias