O pedido de suspensão do reajuste da tarifa de energia, feito pela Energisa à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), levantou a desconfiança de analistas econômicos, que foram surpreendidos pela iniciativa da concessionária. O aumento de 8,9% na tarifa deveria começar a ser praticado a partir da próxima sexta-feira (8), mas foi suspenso até o final de abril.
Em nota à imprensa, a concessionária de energia afirma que está “sensível ao momento atual” e solicitou a suspensão do reajuste “com propósito de amenizar o impacto na conta de luz em virtude do término da bandeira de escassez hídrica”, que acrescenta na fatura R$ 14 a cada 100 quilowatts consumidos.
Em entrevista ao Estadão Mato Grosso, o economista Vivaldo Lopes afirma ter se surpreendido com a medida, mas que a decisão pode ter como pano de fundo a insatisfação da empresa com o percentual. Caso iniciasse a cobrança de 8,9% a mais, a empresa distribuidora de energia não conseguiria praticar um reajuste ainda maior nesse ano.
“O que parece ser uma boa notícia, de a Energisa pedir para não aplicar o reajuste por mais 25 dias, pode ser um indicador de que ela não está contente com o reajuste autorizado pela Aneel. Pode ser que ela queira mais, o que é ruim para o consumidor”, afirma Vivaldo.
O temor é reforçado pelo fato de que a Aneel indicou que irá recalcular o valor do reajuste. O relator do processo de reajuste na Aneel, o diretor Sandoval Feitosa, apontou em seu voto que o aumento das tarifas deve ser suspenso para que sejam apresentadas medidas para recompor as perdas causadas pelo encarecimento da energia elétrica com o acionamento das usinas térmicas.
“Entendo necessária a postergação da vigência das tarifas, até que as medidas elencadas anteriormente estejam aptas a serem aplicadas no processo de reajuste tarifário da Distribuidora”, diz trecho do voto.
De acordo com a Aneel, o cálculo do reajuste anual leva em consideração a variação de custos associados à prestação do serviço. O cálculo considera a aquisição e a transmissão de energia elétrica, bem como os encargos setoriais.
A expectativa é que um novo reajuste seja aprovado pela Aneel, nas próximas semanas, mas com um percentual recomponha ao menos a inflação dos últimos 12 meses, que é superior a 10%. Esse percentual ainda é inferior ao aumento dos custos das concessionárias, que precisaram comprar energia de termelétricas, em razão da forte seca que o Brasil sofreu.
A seca fez com que o governo federal criasse uma ‘superbandeira’ para arcar com os custos do das térmicas, que precisam de óleo diesel para funcionar. Porém, durante a pandemia, houve a redução da oferta do combustível, deixando o produto extremamente caro. Para atenuar o impacto ao consumidor, foi aprovado um empréstimo de R$ 10 bilhões ao setor, cujo custo só deve ser repassado às contas a partir do próximo ano.
“Eu não acredito que uma empresa tenha pedido para reajustar as suas tarifas, tenha esse reajuste autorizado e, de repente, ela abre mão disso. Ela não ia abrir mão para pedir um reajuste menor. Tudo indica que ela está descontente e quer um reajuste maior, o que é ruim para os consumidores mato-grossenses”, conclui Vivaldo.
ESTADÃO MATO GROSSO