As imagens dos caminhões atolados na MT-170, no Noroeste mato-grossense, dão a dimensão do problema enfrentado por produtores e transportadores. Feitas nos últimos dez dias, fotos e vídeos mostram um trecho da estrada em condições precárias, com muito barro, lama, buracos e fila de veículos parados, sem poder seguir em frente.
“Os caminhões chegam nesses pontos e não conseguem passar. E os que tentam seguir ficam por três, quatro ou até cinco dias presos nesses atoleiros”, conta Marcos Antônio Belizário Rodrigues, presidente do Sindicato Rural de Juruena (MT).
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O trecho mais crítico é de aproximadamente sete quilômetros, entre Castanheira e Juruena, e tem prejudicado a logística para pecuaristas e agricultores da região. Segundo Rodrigues, as dificuldades já duram 30 dias, com o início do período das chuvas. A falta de manutenção do trecho transforma alguns pontos em desafios para motoristas. “Há pecuaristas e produtores que estão sem conseguir fazer negócios porque não temos estrada”, ressalta.
Empresas contratadas pelo governo do Estado têm enviado patrolas para tentar viabilizar a passagem, mas o presidente do sindicato avalia que há pouco maquinário para um movimento que gira em torno de 150 caminhões por dia. A entidade que representa os produtores não tem o levantamento das perdas. A avaliação é de que o prejuízo maior será dos pecuaristas, em maior número na região.
Mas também há registro de produtores de soja e de milho com problemas. “Essa é uma atividade nova na região, por isso não há armazéns para os grãos. A colheita da soja terminou e muitos produtores estão com o lote parado, pois não há como escoar a produção”, relata Rodrigues. “Estamos padecendo, não dá para acreditar que uma região tão rica, que produz muito e arrecada tanto em impostos, esteja nessas condições”, completa.
Prejuízos para toda a cadeia
A Associação dos Criadores do Mato Grosso (Acrimat), que representa os pecuaristas do Estado, já fala em prejuízos para toda a cadeia produtiva. Nilton Mesquita, gerente de Relações Institucionais da Acrimat, não tem números, mas ressalta que a falta de logística resultará em perdas financeiras para criadores, frigoríficos e o governo estadual, que deixará de arrecadar impostos com o volume menor de transações agropecuárias.
Mesquita ressalta que as dificuldades de tráfego encarecem insumos e frete, aumentando significativamente o valor da produção. Por outro lado, o produtor tem perdas na hora de comercializar. “No caso do gado, os danos são enormes. Os animais sofrem com problemas de saúde, contusões e fraturas, além de ficarem presos nos caminhões em torno de três a quatro dias sem alimentação e água”, lamenta.
O gerente avalia que a situação se soma ao preço defasado da arroba, o que “gera um desconforto ao produtor, que terá uma margem pequena, quase negativa de lucro”. A entidade enumera outros setores produtivos que são prejudicados pela falta de manutenção da estrada, como café e a produção familiar de agricultores de assentamentos instalados na área, em regiões sem ligação asfáltica.
“Há anos esperamos a pavimentação de trechos na região e consideramos alguns de extrema urgência”, destaca.
Edeon Vaz, diretor executivo do Movimento Pró-Logística, vem monitorando a região desde 2013 a fim de estruturar as reivindicações. Ele comenta que moradores de comunidades localizadas entre os municípios de Castanheira e Colniza chegam a ficar dois meses isolados na época das chuvas. O movimento reúne os setores agropecuário, industrial, comercial e da sociedade civil organizada a fim de articular a implantação e manutenção da infraestrutura de logística no estado.
“Nesse trecho da MT-170, a rodovia foi aberta, mas não foi implantada. Todo ano, a máquina passa para tirar buracos, mas sem a estrutura de base e de terraplanagem. Esse período de chuvas se torna um grande drama”, explica.
Vaz acrescenta que o tráfego de caminhões traçados para o carregamento de madeira, com cerca de 100 toneladas, também é frequente no trecho, o que compromete ainda mais as condições da estrada. Ele não arrisca um cálculo dos prejuízos para a região, mas enfatiza que as obras de pavimentação já foram licitadas: “os próximos três anos serão melhores, mas a estrada só estará toda pavimentada depois disso”.
Obras depois das chuvas
O governo do Mato Grosso divulgou nesta terça-feira (4/4) que as empresas contratadas para asfaltar a MT-170/208/418, antiga BR-174, já estão mobilizadas e trabalham na manutenção da rodovia. Com 271,6 quilômetros de extensão, o trecho que será asfaltado liga os municípios de Castanheira e Colniza, passando por Juruena e Aripuanã (Passagem do Loreto). Ainda serão construídas 23 pontes de concreto ao longo das rodovias.
A obra foi dividida em seis lotes. Em quatro (1, 2, 3 e 6), que totalizam 176,6 km, a Secretaria de Estado de Infraestrutura e Logística (Sinfra-MT) já assinou a ordem de serviço para o início das obras, o que vai ocorrer após o período das chuvas. Os trechos estão entre Castanheira e Juína e próximo à Colniza.
Outros dois lotes, assim como a construção das 23 pontes, estão em fase final de revisão do projeto e serão licitados neste semestre. A Sinfra informou à Globo Rural que, apesar das máquinas estarem trabalhando na manutenção dos trechos críticos, quando chove muito, é necessário suspender o patrolamento.
Segundo a Defesa Civil do Estado, a região onde a estrada fica localizada está dentro da Floresta Amazônica e tem um volume acumulado de chuva que supera os mil milímetros nos três primeiros meses do ano, com vários dias registrando mais de 25 milímetros – quantidade considerada como chuva forte.
Além disso, a estrada tem grande fluxo de caminhões pesados, com mais de 90 toneladas, o que dificulta a sua manutenção durante chuvas fortes. “Em muitos trechos, a rodovia tem o seu leito mais baixo do que a lateral, ou seja, a água não tem para onde escorrer e fica parada na pista”, explica o secretário de Infraestrutura, Marcelo de Oliveira, em publicação no site oficial do órgão.
Histórico
O trecho em situação precária da rodovia foi federalizado em dezembro de 2008, quando o governo federal assumiu a responsabilidade pela pavimentação. Dez anos depois, sem as obras terem sido iniciadas, o governo de Mato Grosso solicitou que a estrada retornasse para a administração estadual.
O Termo de Transferência foi publicado em 30 de dezembro de 2021 e a responsabilidade pela rodovia voltou a ser do Estado em 1º de Junho de 2022. Desde então, a Sinfra-MT afirma que busca adequar os projetos antigos, em parceria com o Tribunal de Contas do Estado, para dar andamento às obras.
O governo mato-grossense também informa que os municípios e o Consórcio do Vale do Juruena, que são cortados pela MT-170/208, receberam máquinas da Sinfra nos últimos dois anos, além de R$ 60 milhões do Fethab nos últimos quatro anos para a manutenção da estrada.
GLOBO RURAL