Em um período de 3 meses, ao menos 3 pessoas foram vítimas de cobranças violentas realizadas por cobradores contratados por agiotas em Cuiabá. Intimidações, chutes, socos, chicotadas e até ameaça com pedaço de madeira são os meios usados nas cobranças.
Os suspeitos parecem não temer nada, já que agem de “cara limpa” durante as agressões. Delegacia Especializada de Roubos e Furtos (Derf) da Capital confirmou que investiga a atuação de uma associação criminosa que vem praticando extorsão e agiotagem na Grande Cuiabá.
Até o momento, 5 pessoas foram identificadas como integrantes do esquema. Há suspeitas de crimes do tipo também no interior do Estado.
Recentemente, circularam nas redes sociais vídeos que mostram a ação dos cobradores. O caso mais recente tem como vítima uma empregada doméstica que teria emprestado R$ 2,5 mil dos criminosos, em dezembro de 2021.
E mesmo pagando R$ 4,8 mil, os cobradores alegavam que ela devia R$ 28 mil. Em grupo, os cobradores chegaram em uma caminhonete branca, na casa da vítima, que nitidamente não tinha condições de arcar com os altos juros.
O imóvel é simples, com paredes apenas rebocadas e não possui piso. Uma mulher grávida, duas crianças pequenas e um senhor estão no local, o que não ameniza o comportamento agressivo dos criminosos.
Toda a cena é filmada pela filha da vítima que chega a procurar um machado do pai, para se defender. “E aí vai querer ficar filmando essa (…) mesmo?”, questiona um dos cobradores, que acrescenta: “ela vai ter que pagar os R$ 28,8 (mil). Ela assinou a promissória e só pagou 4 parcelas. Manda aquela vagabunda acertar a dívida dela, que tá tudo certo”, continua o criminoso, que se altera com a jovem e afirma que as coisas serão “do jeito que eu quero”.
Com o anúncio de que a polícia seria acionada, os homens entram no carro e vão embora. Porém, João Gabriel Brandão da Silva, o homem que ameaçou a empregada doméstica, foi preso no dia 7 deste mês. Na terça-feira (15), o desembargador da 3ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça, Gilberto Giraldelli, negou o pedido de habeas corpus, frisando que o caso é complexo e outros elementos devem ser analisados antes.
INQUÉRITOS
Delegado titular da Derf, Guilherme de Carvalho Bertoli reconhece que cobradores contratados por agiotas vêm desafiando a segurança pública do Estado. Mas afirma que a Polícia Civil está atuando para identificar e prender todos os envolvidos nos crimes de extorsão e ameaça.
Na Capital, existem atualmente dois inquéritos que investigam a prática de agiotagem. “A dificuldade maior nestes casos são as vítimas procurarem a ajuda da polícia. A maioria tem medo, porque as vítimas são constantemente ameaçadas e temem por suas vidas. A nossa orientação é que registrem o boletim de ocorrência, para que possamos agir”.
O delegado classifica o grupo criminoso como covarde, composto por integrantes que agem à base de comissões, sempre visando uma porcentagem da dívida. Por isso, a pressa e os juros abusivos. “Mas acreditamos que com anuência da Justiça para prender dois dos já identificados, sendo uma prisão já cumprida, estes tipos de cobranças violentas tendem a diminuir. E isso só foi possível porque uma vítima denunciou a extorsão”.
FOLHA MAX