A armazenagem de grãos é uma estratégia que permite ao produtor escalonar seus ganhos e controlar o fluxo de vendas. Por isso é amplamente recomendada por especialistas. Entretanto, em 2023, quem guardou a soja colhida no começo do ano para vender depois, perdeu dinheiro.
Levantamento anual feito pelo pesquisador Fernando Rocha, do Grupo de Extensão em Logística Agroindustrial da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (EsalqLog), mostra que os valores praticados no mercado interno caíram mês a mês desde fevereiro, gerando perdas na receita líquida do produtor.
Em média a saca de soja custava R$ 172 em fevereiro, no pico da colheita da safra 2022/23. Em março, valia R$ 9,57 menos e, em abril, R$ 29,96. O auge das perdas ocorreu em junho. Naquele mês, o produtor que comercializou a soja colhida em fevereiro perdeu R$ 40,90 por saca.
O estudo da EsalqLog leva em consideração os preços FOB — ou seja, sem os custos de transporte – no porto de Paranaguá (PR) para a soja que é produzida no município de Sorriso (MT).
Os cálculos contemplam a diferença de preços da saca de soja em todos os meses do ano em relação a fevereiro, a cotação do dólar em relação ao real e o “custo de oportunidade” (medido pela taxa Selic). As contas também incluem a diferença do valor do frete, que costuma cair no pós-colheita, e as despesas com a armazenagem.
“Levo em conta apenas o custo de capital, isto é, só estou mostrando um indicador econômico, o que não significa que a armazenagem seja um mau negócio para o produtor. Ao contrário. É fundamental que ele tenha controle sobre suas operações e mercadorias”, afirma Rocha.
Por que a soja caiu tanto?
Há um conjunto de fatores — domésticos e externos — que pressiona as cotações da soja no mercado. Existe uma grande oferta no Brasil e a expectativa de uma produção robusta também nos EUA. Por aqui, a produção na safra 2022/23 está estimada em 154,6 milhões de toneladas pela Conab, alta de 23,1% em comparação com a temporada 2021/22.
No mundo, a safra 2022/23 está estimada em 349,5 milhões de toneladas de soja, com uma relação entre oferta e uso de 28,4%, de acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). Para 2023/24, a expectativa do órgão é que a colheita no mundo alcance 402,8 milhões de toneladas, com uma relação entre oferta e demanda mais folgada, de 31,1%.
Além disso, o preço da soja é afetado pela cotação do dólar na comparação com o real, que também caiu desde fevereiro até agosto, 5% segundo o Valor Data.
Conforme o pesquisador, 2020 foi o ano em que o produtor mais ganhou com a estratégia de armazenamento, com pico de R$ 75 por saca em novembro, na comparação com fevereiro, início da colheita. Em 2019, a alta na rentabilidade com armazenagem ocorreu também em novembro, com ganho líquido de 8,7%. No ano anterior, foi em setembro a maior alta para quem guardou a soja, com elevação na receita líquida de 30,2%.
Já em 2021, a estratégia só se mostrou vantajosa para a comercialização até maio, de acordo com o estudo, quando o produtor ganhou R$ 6,77 por saca. No ano passado, não houve ganho financeiro na armazenagem.
“Os anos de 2019 e 2020 foram muito atípicos, com a China demandando mais soja que o normal e com a alta do dólar [em relação ao real]. Isso causou uma distorção na série histórica”, afirma Rocha.
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