A guerra na Ucrânia começou há mais de um ano e, nesse período, já vitimou milhares de pessoas e destruiu cidades. Para ajudar no combate, o soldado Arisson Benevides White, de Cáceres, a 250 km de Cuiabá, se alistou no Exército ucraniano há sete meses e hoje atua na linha de frente na cidade de Bakhmut.
Ao g1, Benevides contou detalhes sobre o dia a dia nos campos de batalha. Segundo ele, a informação que a equipe tem é de que a Rússia aumentou a quantidade de ataques e, por isso, a guerra não deve acabar tão cedo.
“As coisas só pioram. Achei que a situação melhoraria, mas só quem está na linha de frente consegue ver que a realidade está pior. A Rússia intensificou os ataques contra civis, tanto que caiu um míssil na minha cidade nesta semana, mas o exército ucraniano está conseguindo recuperar bastante território”, disse.
Arisson afirmou que nunca sofreu ferimentos graves, mas os danos psicológicos são grandes por ter presenciado colegas morrerem em campo.
“A parte mais tensa é quando a gente se depara com a realidade, que é quando a vida fica por um fio. Cerca de 20 pessoas somente do meu grupo morreram. Todos os dias pessoas morrem no confronto. Perdi dois amigos recentemente e é muito triste ver um amigo morrendo e não poder fazer nada”, pontuou.
Soldado de MT perdeu cerca de 20 amigos durante combate na Ucrânia — Foto: Arquivo pessoal
Segundo o soldado, ele criou interesse pelo militarismo através de um tio que é policial militar em Mato Grosso e, por isso, decidiu servir no Exército do exterior. Arisson saiu do Brasil para se alistar na Legião Estrangeira Francesa, em Paris – capital da França – e, somente depois, soube que a Ucrânia estava recrutando pessoas de outras nacionalidades.
“Muitas coisas acontecem em campo de batalha, mas o que me abalou bastante foi ver a realidade que as pessoas estão enfrentando aqui [na guerra]. Elas estão passando muita necessidade e muitas nem têm alimento. Pessoas que um dia tiveram condições hoje não têm nada. Faço o que posso para ajudar, participei até de ajuda humanitária”, relatou.
Arisson foi lutar na guerra sem a mãe saber, no entanto, ela recebeu a notícia pouco tempo depois, quando viu uma foto do filho circulando pelas redes sociais. “No começo ela não gostou muito, mas acabou aceitando”, contou.
Há cerca de 60 brasileiros atuando no Exército da Ucrânia, que conta também com a participação de estrangeiros do mundo todo e, por isso, se comunicam, na maioria das vezes, em inglês, espanhol e francês.
Rotina em campo
“São 24h embaixo de bombas e morteiros, que é uma bomba que a Rússia não economiza, além de sofrer as tentativas de invasão dos russos nas nossas trincheiras. Na minha primeira missão lançaram um míssil há aproximadamente sete metros de mim, momento que eu desmaiei e, graças a Deus, não morri”, ressaltou.
Para que o combate continue, é necessário enfrentar o frio, o medo e a fome. Segundo Arisson, o batalhão recebe treinamento de primeiros socorros para lidar com diversas situações e, em casos mais graves, é possível contar com a ajuda de médicos, que ficam localizados próximo ao local de defesa. Benevides ainda disse que a rotina consiste em ficar cinco dias na trincheira e quatro em descanso.
“Em relação ao alimento, a gente recebe bastante doação, então quando vamos para a posição, levamos o máximo que conseguimos. Uma vez nosso veículo foi atingido durante uma missão e algumas pessoas ficaram feridas, então, como tivemos que interromper nossa extração, ficamos no local por mais de sete dias direto e, inclusive, a gente passou fome”, relembrou.
De acordo com o soldado, é necessário estar preparado para todo tipo de situação, porque a guerra é imprevisível e o treinamento prévio é essencial.
“Quando ocorre algum acidente ou morte, nós [soldados] que temos que socorrer o ferido, fazer a extração e se manter frio, porque na hora que você está na trincheira não tem o que fazer. Se acontecer um acidente pode demorar um ou dois dias para chegar o socorro, porque os russos impedem e dificultam a chegada dos médicos”, disse.
G1 MT